quinta-feira, 20 de abril de 2006

O que não aprendemos na escola.

O texo abaixo, escrito às 4 da manhã, certamente renderia uma nota 5 em redação. Mesmo assim, espero que ofereça alguma ajuda.

“Fazer parte de uma banda internacionalmente conhecida me fez entrar num mundo que, até então, eu desconhecia. Quando a gente tem uma banda, acredita nela, luta por ela, muitas vezes não sabe o que se passa por trás dos palcos, ou da produção de um disco, ou o quão trabalhoso é manter uma banda de sucesso funcionando. Era assim com o Karma. Nós éramos, em 2000, uma banda com um disco (Inside the Eyes) lançado por uma gravadora pequena, com pouca verba, mas com excelentes músicos e muita vontade de acontecer. É claro, isso não era o bastante.

Como muita gente já sabe, no início de 2001 fui chamado para entrar no Angra. Na época, o lado sonhador prevalecia sobre o lado profissional, e a possibilidade de que o Angra atrapalhasse o Karma me fez refletir muito, já que eu era fã da minha própria banda. No entanto, é claro que eu aceitei o convite, o que foi uma decisão mais do que acertada. Na primeira reunião que tive com a banda, já então completa novamente após a separação de 1999, a quantidade de informações que tive de absorver foi tão grande que mal conseguia lembrar a essência dos assuntos discutidos. Então me dei conta que, apesar de tocar baixo havia 8 anos, eu não sabia nada sobre o mercado musical.

Hoje em dia, depois de alguma água passada embaixo da ponte, eu considero que aprendi um pouco, uma parte ínfima do universo complexo de gravadoras, editoras, distribuidoras, empresários, viagens, licenças, contratos, porcentagens, direitos, taxas e impostos inerentes à vida de músico. A cada dia que passa eu aprendo alguma coisa nova. E, por mais que meus colegas mais experientes de banda tenham tido muita paciência pra me explicar o máximo que conseguiram, muitas coisas ainda ficaram incertas em minha cabeça. O que aprendi, de fato, foi na raça, errando e acertando (mais errando que acertando).

A lição mais importante que eu tirei de tudo isso é que não basta ser o melhor baixista do mundo se você não sabe gerir sua carreira. Por isso, em minhas aulas e workshops, procuro dedicar um tempo conversando com os alunos, pra que eles possam ir se preparando para o mercado, e se libertando dos mitos que rondam a profissão de músico. A minha dica inicial seria “leia o jornal” (que hoje em dia pode facilmente ser feito gratuitamente no computador se você acesso à internet), informe-se sobre os acontecimentos à sua volta. Aprenda a calcular juros e porcentagens, familiarize-se com planilhas de custos e receitas, aprenda a aplicar seu dinheiro, organize sua vida financeira (mesmo que você nem tenha renda fixa ainda), e você estará mais preparado para enfrentar o mercado do que eu estava em 2001.

Tudo isso parece muito frio e calculista por estarmos falando de uma arte tão intuitiva e bela como a música, mas infelizmente é necessário. Quanto mais profissional você se mostrar mesmo nas situações mais simples, mais chances terá de liderar em vez de ser liderado, e menos riscos correrá de ser passado para trás. Nunca assine um contrato sem antes levá-lo a um advogado competente, preferencialmente especialista no assunto. Nunca!!! Faça registros de quaisquer receitas ou gastos que tiver com sua banda, desde o xérox da capinha da demo até o correio pra enviar um CD. Mais tarde, isso fará uma enorme diferença, acredite.

Outro aspecto de suma importância numa banda é a comunicação. Onde a comunicação é falha, problemas surgirão. A clareza de idéias e ações deve ser a tônica das relações de uma banda. Nada como a franqueza para resolver as situações antes que elas se tornem insolúveis. Se você não gosta de alguma coisa, fale. De outro lado, saiba escutar o que os outros têm a dizer. Não tente ganhar as disputas internas no “grito”, procure o dialogo franco e aberto. Como reza a velha máxima, “uma banda é como uma família”. Se tudo der certo, você vai acabar vendo seus companheiros de banda muito mais do que sua própria família, namorada(o), amigos, etc. Qualquer semente de discórdia não resolvida hoje virá à tona no futuro, isso é certo como 2+2=4.

Hoje, estou aplicando todos os conceitos que aprendi ao longos desses 5 anos no Karma, a banda que deixei em 2001, e da qual agora faço parte novamente. Sinto-me muito mais maduro e capaz de liderar uma banda, e isso está começando a gerar frutos. Estou de volta à situação em que me encontrava antes entrar para o Angra, mas as minhas perspectivas são muito maiores, e um dos fatores de maior importância nesse sentido é saber conviver com as pessoas. As amizades e contatos que eu fiz com o Angra são os mesmos que estão ajudando o Karma agora. Ser uma pessoa agradável é o maior trunfo que você pode ter na mãos, pois nunca faltarão pessoas para te ajudar.

Em resumo, não se iluda. Não largue o emprego ou a faculdade se as coisas ainda não estão de fato acontecendo. Não acredite em nenhuma promessa de nenhum tipo até ver os resultados concretos aparecerem. Não dê dinheiro a ninguém que não conheça. Não é porque alguém se diz empregado da Sony, e que vai te lançar mundialmente, que você vai largar tudo. Existem muitas pessoas mal-intencionadas por aí. Seja desconfiado, sem ser chato. Já cansei de ver amigos meus largarem tudo por uma promessa vazia, e depois terem de vender seus próprios instrumentos pra cobrir os prejuízos e o calote que tomaram. Eu vejo isso todos os dias. E ao mesmo tempo, não me sinto no direito de acabar com os sonhos das pessoas, porque eu sei como é sonhar. Ao mesmo tempo, agarre todas as oportunidades, e dê sempre o seu melhor. Um dia você poderá descobrir que ser músico não se limita a ter uma banda com músicas próprias, e que existem inúmeras alternativas. Seja o melhor que puder, seja versátil, seja profissional, tenha sua mente aberta e você terá muito a oferecer para o mercado.”

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Música: a eterna competição.

Uma das coisas mais abstratas e subjetivas, em minha opinião, é o talento musical. Ele pode se manifestar de inúmeras formas em pessoas diferentes, e o que é bom pra alguns é ruim pra outros. Afora os músicos claramente pouco talentosos, definir quem é o melhor vai depender única e exclusivamente do gosto pessoal de quem julga. Ninguém pode lhe dizer que você deve gostar mais de Fulano ou Beltrano simplesmente porque eles são músicos melhores. Mas, opinião é opinião, e fato é fato.

Numa comparação entre dois músicos, inexiste a necessidade de definir quem é melhor. No entanto, algumas vezes a superioridade de um é muito evidente, ou ainda, as limitações do outro são claras. Para que possamos exercer este julgamento, que diz mais respeito aos aspectos técnicos do que ao gosto pessoal, é necessário dispor de algum conhecimento, seja ele formal ou a simples convivência com a música e os músicos. Eu, por exemplo, já presenciei muitas pessoas que não são musicistas exporem uma visão muito mais lúcida do que algumas que são.

Por que essa reflexão? Simples: como um músico que trabalha bastante, lança discos, faz muitos shows, aparece bastante – coisas, aliás, pelas quais me sinto muito afortunado -, estou sempre sendo comparado com outros músicos, e até mesmo tendo meu desempenho avaliado pelas pessoas. Acho isso extremamente saudável, e procuro extrair o melhor de cada crítica, pois acredito que a evolução de um músico é crescente a partir do momento em que ele tem consciência de que não é perfeito.

Existem, entretanto, algumas coisas que me deixam um pouco chateado. Especialmente na internet, o eterno celeiro da mentira, da discórdia e das pessoas sem rosto, as pessoas simplesmente falam o que querem. Até aí, podemos entender esse fenômeno como o paraíso da liberdade de expressão, mas algumas pessoas se utilizam destes espaços para desferir os comentários mais absurdos, e falar todo o tipo de supostas verdades imagináveis, ou mesmo inimagináveis.

Ultimamente tenho acompanhado acaloradas discussões sobre mim em minha comunidade no orkut, onde as pessoas questionam se eu seria o melhor baixista do Brasil, do mundo, sei lá de onde. Eu acho que, se eu for o melhor baixista lá de casa, já estou no lucro. Eu nunca entrei no mercado pra ser o melhor do mundo, mas sim pra ser o melhor que eu puder. Diferentes pessoas têm diferentes limites, e eu acho que ainda não cheguei ao meu limite, mas tenho certeza de que existem muitos baixistas, famosos ou não, que tocam melhor do que eu.

Até aí, tudo bem, sem novidades. Acontece que algumas pessoas, com base em não sei que fatos, pensam que eu me acho o melhor, ou que eu quero ser o melhor. Ei! Eu nunca disse isso! Onde foi que vocês me viram dizendo isso??? Aí o resultado é um monte de gente dizendo que eu me acho a última bolacha do pacote, o rei da cocada preta, e que na verdade não toco nada. Se você acha que eu não toco nada, estou interessado em saber sua opinião sobre como eu poderia melhorar. Se você acha isso, mas não sabe como eu posso melhorar, então sua opinião não tem qualquer base, e é movida por outros motivos que eu desconheço. Então, sua opinião não me interessa nem um pouco.

Eu posso perfeitamente entender que uma pessoa goste mais de um músico menos técnico, isso acontece comigo também. Mas isso é opinião pessoal, não é verdade absoluta. Não existem ferramentas ou métodos pra medir a qualidade de um músico, e a velocidade que ele alcança nada diz sobre o quão bom ele é. Eu gostaria muito que as pessoas parassem pra pensar antes de sair escrevendo um monte de asneiras por aí. Talvez alguns achem até que isso que estou escrevendo é asneira, mas se isso serviu pra fazer você pensar um pouco, já estou feliz.

Pra constar, vou citar os baixistas que eu considero os melhores da atualidade:

- Victor Wooten
- Michael Manring
- Alain Caron
- Richard Bona
- Billy Sheehan
- Marcus Miller
- Arthur Maia
- Sizão Machado
- Thiago do Espírito Santo
- Sandro Haick
- Brian Bromberg

- Jaco Pastorius

É claro que existem muitos outros, mas os que me vieram à cabeça no momento foram estes. Resumindo, se você me acha o melhor baixista do Brasil, quiçá do mundo, fico realmente grato, isso significa muito pra mim! Se você não acha, saiba que eu concordo! Vou procurar sempre evoluir, disso todos podem ter certeza. Tenho vontade de lançar um trabalho solo onde eu possa explorar melhor o baixo, que é um instrumento que oferece tantas possibilidades. E aqueles que querem realmente saber o quanto eu toco, eu convido para fazer uma aula comigo no Conservatório Souza Lima ou no Estúdio Eko, informações no meu site, www.felipeandreoli.com. Ou ainda, compareça a um workshop, e se tiver a chance, venha conversar comigo e expor suas idéias sobre como eu posso me tornar um baixista melhor. Eu ficaria extremamente grato!

Por quê um Blog?

Resolvi fazer este Blog com o intuito de postar umas coisas que às vezes tenho vontade de escrever, mas acabo não o fazendo por não ter aonde publicar. Agora tenho! Sintam-se à vontade para comentar, aliás, por favor, comentem! E deleitem-se com meu primeiro post :-)